De olho na La Niña, Paraná inicia discussões sobre prevenção e combate a incêndios florestais 23/05/2024 - 18:29

Com o objetivo de apresentar as perspectivas de cenário, especialmente com a presença do fenômeno La Niña no estado, e as estratégias para atuar frente aos incêndios florestais no Paraná, o Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) promoveu nesta quinta-feira (23), o 1º Workshop de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal. Realizado no auditório da Sanepar, no bairro Tarumã, em Curitiba, o evento reuniu representantes de órgãos e entidades públicas e de empresas privadas.

“O Corpo de Bombeiros Militares há muitas décadas realiza anualmente a sua operação de prevenção e combate aos incêndios florestais - batizada em 2018 de Operação Quati João. E nós percebemos essa necessidade de integração com outros órgãos que atuam nos incêndios florestais, seja na prevenção ou no combate. Porque os grandes incêndios florestais têm característica de serem de difícil debelação”, explicou o subcomandante-geral do CBMPR, coronel Antônio Geraldo Hiller Lino. “O trabalho é árduo e exige muitos recursos. Então, essa articulação é essencial”, complementou.

Assim, com foco nas alianças contra um problema em comum, o encontro no Museu das Águas marcou não só o início da Operação Quati João de 2024, mas também da retomada de conversas mais frequentes entre as entidades que tratam do tema. “A operação dura vários meses e, no transcurso desse tempo, a cada 15 ou 20 dias, faremos encontros virtuais em que serão relatados os atendimentos realizados no período anterior e os prognósticos para o próximo período. Os prognósticos de clima, tempo e eventuais necessidades específicas de integrações”, complementou o oficial.

Só nos primeiros meses de 2024, já foram registradas quase 4 mil ocorrências dessa natureza. Como comparação, em todo o ano de 2023 haviam sido pouco mais de 5,5 mil. Em geral, os meses de julho a setembro são os mais propensos a esse tipo de ocorrência. O alerta é ainda maior para os próximos meses porque a presença da La Niña tende a favorecer a incidência de focos de incêndio ambiental.

A explicação para esse alerta é feita pelo chefe de operações do Simepar, Marco Jusevicius. “La Niña é um fenômeno que ocorre no Oceano Pacífico, onde você tem ocorrência de águas mais frias. Esse esfriamento causa uma modificação na circulação atmosférica que altera as condições que se espera de chuva e de temperatura em diversas partes do planeta”, resumiu, para então regionalizar a questão. “Na região Sul, muitas vezes, o efeito mais direto é não permitir a passagem de frentes, causando uma diminuição na atividade de chuva. Deixando o ambiente mais seco, você favorece a ignição e a propagação de incêndios”, disse.

O papel do Simepar nesse mutirão para minimizar os problemas causados pelos incêndios ambientais é estratégico: fornecer informações. Os cenários e previsões apresentados são usados para que o CBMPR e os demais entes possam alocar recursos de antemão, se preparando para eventualmente entrar em ação.

Também relevante nesse sentido é a contribuição da Defesa Civil. O assessor de comunicação, capitão Marcos Vidal, falou sobre planos de contingência para casos de emergências e sobre o PREVINA (Programa de prevenção de incêndios na natureza), criado em 2018 com o objetivo de prover mecanismos para a prevenção e o combate aos incêndios florestais nas Unidades de Conservação Estaduais. "A integração entre as instituições para dar esse atendimento é muito importante, especialmente nesse período prévio de planejamento de prevenção para que nós possamos dar sempre a melhor proteção a população do Paraná, também com foco na preservação ambiental", comentou o capitão.

Outro ponto de destaque no encontro foi a participação da sociedade civil, especialmente por meio de voluntários e de empresas com atuação fortemente ligada ao meio-ambiente. Luis Cláudio Landre Lot, chefe do Núcleo de Biodiversidade e Florestas da Superintendência do Ibama no Paraná, por exemplo, ressaltou a atuação da brigada federal do Rio das Cobras, formada por indígenas das etnias Guarani e Kaingang, e que já esteve inclusive em ação no Pantanal.

André Luís Caxeiro, da Federação Paranaense de Montanhismo, e Rafael Gava, presidente da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias e da Brigada Caratuva, também falaram sobre a contribuição dos voluntários de cada organização. Além do extensivo trabalho de educação ambiental e prevenção, eles são importantes por normalmente serem acionados quando o fogo atinge terrenos que eles conhecem a fundo.

A Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE), representada pelo diretor-executivo Ailson Loper, destacou que seus associados funcionam como uma rede de vigilância e prevenção e que a cada ano esse trabalho de conscientização é intensificado.

A mesma preocupação em difundir conhecimentos acerca de medidas preventivas encontra eco no instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná). Um exemplo disso, segundo Amauri Ferreira Pinto, gerente de Políticas Públicas, tem sido o de conscientizar os agricultores de que o fogo, ao contrário do que muitos deles acreditam, é prejudicial ao solo e ao meio-ambiente. Muitos ainda tratam, erroneamente, o fogo como necessário para renovar o terreno de plantio.

“O evento foi uma grande oportunidade para que as instituições que atuam na prevenção, no combate, ou têm relação com a preservação do meio-ambiente, pudessem conhecer como algumas instituições irão atuar para prever riscos, prevenir, mitigar, e caso seja necessário, combater incêndios florestais neste ano, cujo risco de ocorrência é alto em função da La Niña”, comentou a capitã Luisiana Cavalca, integrante da Câmara Técnica de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal do CBMPR, e uma das organizadoras do evento, ao lado do capitão Jorge Henrique Freire.

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