Bombeiras militares do Paraná ganham espaço e assumem todo tipo de missão 13/03/2024 - 08:43

Soa o alarme no Quartel do Comando-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), em Curitiba, anunciando mais um chamado. Para atender a emergência, a autoplataforma (caminhão com uma plataforma que atinge 54 metros de altura) acelera, com as sirenes ligadas, correndo contra o relógio. Na cabine, quem desafia o trânsito para levar o veículo de aproximadamente 13 metros de comprimento até o local da ocorrência no menor tempo possível é uma bombeira: a cabo Josiane Aparecida Luquetta, de 39 anos.

Ás do volante, ela é uma das 278 mulheres que atualmente compõem o efetivo da Corporação – o que representa 8,5% dos 3.265 profissionais em atividade. A presença feminina, que ainda é relativamente recente no CBMPR, uma vez que só começou em 2005, vem sendo ampliada gradativamente. Elas já exercem diversas funções diferentes dentro da estrutura institucional, participando tanto do planejamento quanto da área operacional. Entre os cadetes do curso de formação, 17 dos 52 alunos são mulheres – 32,7% do total. A lembrança às mulheres que combatem a incêndios, resgatam vítimas ou prestam assistência em situações de emergência é um dos destaques do Mês da Mulher no Estado.

“As mulheres têm um papel importante no Corpo de Bombeiros Militar do Paraná, desempenhando todas as funções realizadas pela Corporação - atendimento pré-hospitalar, combate a incêndio, busca e salvamento entre outras”, declarou o comandante-geral do CBMPR, coronel Manoel Vasco de Figueiredo Junior. Ele também destacou a contribuição das bombeiras para o crescimento da instituição nos últimos anos.

“Ajudou e ajuda muito. Tenho mais de 30 anos de serviço; as mulheres entraram no Corpo de Bombeiros em 2005. Sou testemunha do quanto a Corporação cresceu com a presença feminina, trazendo uma visão mais humanitária, e tenho certeza de que a sociedade paranaense vem sendo melhor atendida com a presença das mulheres aqui”, complementou o coronel.

Embora já estejam ocupando cargos de quase todos os níveis na hierarquia do Corpo de Bombeiros, as mulheres têm conquistado espaço com mais destaque entre os oficiais. Dos 309 integrantes desse grupo de profissionais, 48 são do sexo feminino – 15,5%. A graduação mais alta já atingida por elas é a de major, que só fica abaixo de tenente-coronel e coronel. Duas mulheres conseguiram chegar a esse patamar.

A major Geovana Angeli Messias é a mais antiga na Corporação, tendo entrado em 2005, sendo uma das pioneiras na empreitada. Como uma espécie de desbravadora, ela foi a primeira a participar de um Curso de Formação de Oficiais Bombeiros Militares (CFO), a primeira a receber o status de capitã, e a primeira a comandar uma unidade operacional do CBMPR. Responde atualmente pelo 1º Subgrupamento de Bombeiros Independente (1º SGBI) de Ivaiporã, no Vale do Ivaí, que tem um efetivo de 56 integrantes.

Quem também já pisou nesse degrau do oficialato maior foi a major Franciane Alves de Siqueira, de 40 anos, cuja inclusão na Corporação ocorreu em 2006. “Eu não tinha como crescer imaginando que seria bombeira militar, porque até então não existiam mulheres bombeiras. Mas eu queria ser militar”, contou. “Meu pai era praça do Exército. Cresci numa família de militares, andando de jipe, de blindados, dentro de um quartel”, continuou.

Conseguiu. Tornou-se uma das pioneiras entre as oficiais da instituição, ajudando a levar um novo ponto de vista a um ambiente dominado pelos homens e, como ela mesma diz, até então “pensado para eles”. Hoje como chefe das seções da diretoria de pessoal, entende que o cenário é outro - e positivo. “O quadro é de evolução constante. Estamos alcançando posições que não eram ocupadas por mulheres porque até então nossa carreira não tinha progredido para que essas funções fossem ocupadas”, explicou a major. “E estamos demonstrando nossa competência técnica e profissional na nossa rotina, na gestão de projetos, de conflitos, da atividade operacional, em tudo aquilo que nós nos envolvemos”, falou.

“Desenvolvemos trabalhos, executamos missões e mostramos a importância da visão diferente no desenvolvimento das atividades; da riqueza das diferenças entre a mulher e o homem no desempenho do trabalho; e que nós temos muito a contribuir para o crescimento da corporação e para o atendimento da sociedade”, acrescentou. 

“As mulheres desempenham exatamente as mesmas funções que os homens e têm as mesmas competências e habilidades que os homens dentro da nossa corporação, então, nós temos um papel fundamental para a sociedade paranaense”, concluiu a major Franciane, para quem o CBMPR vive uma evolução institucional, em meio à modernização de suas legislações, normativas e atenção às demandas das bombeiras.

A parte operacional do Corpo de Bombeiros também conta com a força feminina. Dos 2.883 praças no efetivo, 209 são mulheres – ou seja, pouco mais de 7%. É o caso da já citada cabo Luquetta, que está na instituição desde 2013 - ingressou na instituição já com 29 anos. O interesse pela profissão começou após conhecer bombeiros que trabalhavam no Siate, enquanto cursava a faculdade de Enfermagem.

A função de condutora surgiu quase por acaso, quando era recém-formada no curso de soldados, em 2014. “Circulou uma lista para realizar a mudança de categoria de CNH. E recruta é voluntário para tudo. Coloquei meu nome na lista”, brincou. “Em pouco tempo, eu já estava habilitada para conduzir as viaturas pesadas. Comecei com ambulância, depois caminhão de combate a incêndio, carreta. Quando recebemos a plataforma, em 2019, fui lembrada. Então, eu participei do primeiro curso de formação de operadores da Autoplataforma Mecânica”, contou.

Mulher na cabine de um veículo pesado ainda não é algo comum, então não tem como não perceber uma certa surpresa nas ruas. “Não é muito, mas tem esse estranhamento. Mas vejo como algo positivo, até. Muitas vezes, recebi o carinho de mulheres dizendo que estavam orgulhosas em ver uma mulher ao volante. E os homens ficam impressionados”, revelou ela, que em seguida resume o que é mais difícil na profissão.

“É não conseguir reverter situações, lidar com a dor e o sofrimento do outro”, contou. “E o mais gratificante é a sensação de missão cumprida, de receber o carinho e o reconhecimento da população”, complementou, dizendo ainda que os momentos mais marcantes na trajetória profissional são aqueles “em que estamos tentando salvar vidas”.

A cabo Luquetta ainda deixa um recado a respeito da presença feminina na Corporação. “A gente vem ganhando espaço no Corpo de Bombeiros. As mulheres hoje são condutoras, comandantes, guarda-vidas, socorristas, entre outras funções. Mas somos acima de tudo bombeiras, com o mesmo propósito. E a população pode esperar de nós o nosso melhor”.

 

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