CBMPR prepara nova fase de apoio em União da Vitória 26/10/2023 - 20:20
O trabalho do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) na cidade de União da Vitória, castigada pela terceira maior enchente de sua história, completou 20 dias nesta quinta-feira (26). Antes mesmo dos temporais do início do mês elevarem o nível do rio Iguaçu para patamares acima de 8 metros – o pico foi de 8,38 metros, no dia 20 –, a instituição já participava das ações de preparação para o enfrentamento às inundações indicadas pelas previsões meteorológicas. Agora, a expectativa é pela volta gradativa dos moradores para suas casas, o que ainda depende das condições do tempo, e pelo trabalho seguinte, de limpeza de todo o estrago.
“Vamos entrar numa fase muito difícil, na qual a comunidade fica muito triste, por causa do cenário. Temos muita sujeira, lodo, um problema que pode ser grave com doenças decorrentes da própria sujeira acumulada de animais mortos”, apontou o Major Jorge Augusto Ramos, comandante do 10º SGBI, que esteve na operação desde o início. De acordo com ele, nessa fase as pessoas precisam tomar cuidados especiais, usando luvas, botas de borracha, protegendo mãos e pés para evitar infecções e doenças típicas de um pós-enchente. Outra preocupação é com a presença de animais peçonhentos, que podem ter sido trazidos pela enxurrada e ter ficado dentro e embaixo das casas.
Esse processo de limpeza, avalia o Major, será longo e deve levar de 20 a 30 dias para ser executado e contará com o suporte da Corporação até o fim. “O Corpo de Bombeiros vai permanecer com apoio de pessoal, de materiais, caminhões de combate a incêndio – que agora são utilizados pra limpeza de ruas, prédios públicos e o que for necessário”, atestou o Major Jorge Augusto, que reforçou que a operação começou antes das enchentes, assim que o risco foi detectado, e teve colaboração de todos os entes públicos e privados envolvidos. “Não perdemos nenhuma vida humana em toda a região. Essa é a questão mais gratificante. As perdas econômicas e os danos são grandes, mas a vida foi preservada”, opinou. Para ele, o município voltará à normalidade em meados de novembro.
Por enquanto, no entanto, a indicação é aguardar mais um pouco antes de retornar às áreas alagadas. “A orientação é aguardar o próximo fim de semana, quando devemos ter chuvas mais fortes e volumosas para observarmos a reação do Rio Iguaçu”, explicou o Capitão André Schulmeister Fonseca. “Pela medição da Copel, o rio está baixando de maneira contundente, já está abaixo dos 8 metros desde terça-feira (24). Se as chuvas do fim de semana não mudarem isso, podemos ter um retorno cauteloso dos moradores”, acrescentou o comandante da 3ª Seção do 10° Subgrupamento de Bombeiros Independentes (10º SGBI) de Irati. “Já tem gente voltando para casa, mas ainda não é a hora”, complementou, reforçando o pedido por paciência.
Os trabalhos têm se concentrado, nesse momento, em salvamento de animais e ajuda humanitária, como entregas de cestas básicas, remédios e demais donativos para quem está ilhado em casa por alguma razão. “A gestão da operação tem sido feita em conjunto com a prefeitura. A parte não emergencial eles fazem a triagem e nos passam as demandas que precisam”, contou o Capitão. Com isso, já se começa também a discutir como será efetuada a operação de limpeza da cidade. Caso não haja nova elevação do nível do Rio Iguaçu, isso deve ocorrer a partir do início da próxima semana.
No auge da tragédia natural, o efetivo do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná no município chegou a 75 bombeiros militares. “Nos dias de pico, tínhamos 40 bombeiros no período integral; manhã, tarde, noite e madrugada com 40 bombeiros à disposição da comunidade para os trabalhos necessários”, contou o Major Jorge Augusto.
Em socorro aos habitantes da cidade, foram deslocados efetivos de União da Vitória e de Irati, além de reforços de outros quatro grupamentos de bombeiros, do 1º Comando Regional de Bombeiro Militar (CRBM) e do Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost), de Curitiba. Atualmente, com a crise hídrica estabilizada, estão em ação cerca de 30 bombeiros militares – a maior parte da região, com apoio de uma força-tarefa do Gost.
A presença extra de bombeiros militares na cidade começou antes dos primeiros estragos, quando – em conjunto com entidades de diversas áreas – foram tomadas medidas preventivas e de pronta resposta em função das previsões meteorológicas preocupantes. No início das chuvas, as atividades na cidade contavam com a participação de cerca de 32 bombeiros militares, incluindo bombeiros de Irati. Com abrigos previamente definidos, os moradores de locais que inundam primeiro foram sendo evacuados.
A equipe de reforço, que estava de sobreaviso, precisou então ser acionada devido à velocidade com que as águas foram subindo. “Foi quando tivemos a mobilização das forças-tarefas, com equipes similares àquelas que foram atuar no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, recentemente. Dessas forças-tarefas, duas foram designadas para São Mateus do Sul e quatro para União da Vitória”, explicou o Major Jorge Augusto.
A força-tarefa tem em um primeiro momento uma atuação mais reativa, concentrando-se principalmente nas operações de intervenção aquática, utilizando embarcações com quatro bombeiros para acessar locais já castigados pelas cheias. Foram mobilizadas sete equipes de suporte e mais uma especializada em resgate de animais. Necessidade que se ampliou à medida que o rio subiu. “Enquanto outras equipes faziam a mudança dos moradores de áreas ainda não atingidas pelas águas, mas que o seriam em breve, o Corpo de Bombeiros executava a retirada de emergência de pessoas que ficaram ilhadas”, relatou o Major. Até quarta-feira (25), haviam sido contabilizadas quase 500 remoções diretas, de animais e pessoas, com o apoio do Corpo de Bombeiros.
O aspecto emocional agravado pela chuva e a decisão dos moradores de permanecerem nas residências são duas das principais dificuldades encaradas pelas equipes de campo. “A chuva dificulta. No dia de chuva mais forte, o pessoal se desespera e as ocorrências sobem muito. Outra complicação é quando as pessoas deixaram para a última hora para sair de casa, apesar de terem sido avisados dos perigos. Aí, quando vão sair, ou não dá tempo, ou tentam fazer de forma emergencial e a gente não consegue dar conta de atender a todos assim, de última hora”, apontou.
Por outro lado, um ponto que favoreceu os trabalhos foi a preparação do município para esse tipo de acontecimento. “Eles têm uma organização muito boa já, pelo conhecimento que eles têm do histórico de cheias do Iguaçu. Uma situação que chama muito a atenção é que eles usam um mapa, comparando com os dados da previsão de elevação do rio, para saber com antecedência qual rua será atingida com determinado nível do rio”, revelou o Major Jorge Augusto. A informação ajudou a avisar e a retirar os moradores dessas localidades com antecedência.